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Poema de Benjamin Constant

“Todo sentimento precisa de um passado para existir.

O amor não, ele cria como por encanto um passado que nos cerca.

Ele nos dá consciência de havermos vivido anos a fio,

com alguém que a pouco era quase um estranho.

Ele supre a falta de lembranças por uma espécie de mágica”.

 

Trecho retirado do DVD de Ana Carolina. Poema de Benjamin Constant

O Poetizar do ser

O Poetizar do ser
Os pensamentos fluem a me ver sentado no colo da Maria Sem Vergonha.
Olhando para frente. Frente essa que nos espera o mar.
O Oceano Atlântico.
Oceano este que nos traz além de tranqüilidade, beleza.
Também nos traz alimento.
Traz de volta as tartarugas que um dia aqui foram paridas,
Ou melhor, chocadas, por essas areias imensas, mais às vezes tão curtas.
Essa praia que ora é dos artistas,
Ora dos poetas,
Ora dos atores
E muitas vezes e quase sempre dos admiradores.
Essa praia que abriga sentimentos revolucionários, libertários, libertinos e libertadores,
Também é a praia do sossego, das manifestações, dos abraços, das lutas.
É nela que encontramos a barraca do Aloísio,
Uma das primeiras barracas Tropicalista de Salvador, que até hoje se mantém,
É nela que encontramos a Maria.
Maria mulher, destemida, regueira, rasta e Sem Vergonha.
Sem vergonha de viver, de ser, de estar, e de permanecer.
O meu ser se poetiza onde repousam a mente dos poetas,
Os ovos das tartarugas.
É onde se aguça o grito:
“Esgoto no mar é burrice” ou ainda esse
“Não ao emissário submarino”.
E é pela continuação desse espaço que queremos que ele,
Ou melhor, que ela seja sempre
A Praia dos Artistas
Por Josafá Araújo*
*Pedagogo, morador da Boca do Rio, frequentador, admirador apaixonado pela Praia dos Artistas

“Minha poesia se revolta e é retrato falado”

"Minha poesia se revolta e é retrato falado"
                                                                                por Carla Cristina Santos*
 
Tem poesia dentro de mim
Perdida entre a dor da bala seca que neste momento atinge mais um!
Fuzil, metralhadora, arcenal pesado
E um olhar já é motivo de uso.
Minha poesia agora acertada por uma bala perdida
por uma bala encontrada em algum corpo
Me trás angústia, medo, raiva.
Em tempos de incerteza,
Mães choram velórios de filhos
Nada é garantido
No meio do tiroteio o Estado também dispara
Mata!!! Corpo inocente estendido no chão
Mais preto do que branco
Minha poesia Reaje!
Reaje diante do medo de não poder amanhã
abraçar vivo o corpo de gente que amo.
Revolta!!!
Tantos mortos mas por outro lado
Criança chora, corpo vivo, nasce mais esperança
com vontade de pelo menos chegar a fase adulta.
Minha poesia protesta!
Com toda fúria de mãe que clama justiça
Que chora dor de filho levado cedo.
Minha poesia agora é retrato falado
PROCURA-SE:
Ser Humano?! Cadê você???!!!
Escondido nas trincheiras de falso poder?
                                                                              Julho/2008
 

*Carla Cristina Santos é Pedagoga em formação pela Universidade Federal da Bahia,
miliatante do movimento de mulheres negras e integrante do Grupo de Hip Hop Munegrale

Organiza o Natal

Organiza o Natal

 

Carlos Drummond de Andrade


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.


Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.

Texto extraído do livro "Cadeira de Balanço", Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1972, pág. 52.

Jorge de Capadócia

Composição: Jorge Benjor (Adaptação da oração de São Jorge)

 

Jorge sentou praça
na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também
sou da sua companhia

Eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge.
Para que meus inimigos tenham pés
e não me alcancem.
Para que meus inimigos tenham mãos
e não me toquem.
Para que meus inimigos tenham olhos
e não me vejam.
E nem mesmo um pensamento eles possam ter
para me fazerem mal

Armas de fogo
meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
sem o meu corpo tocar.
Cordas e correntes arrebentem
sem o meu corpo amarrar.

Pois eu estou vestido com as roupas
e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia
Salve jorge!
Salve jorge!

Jorge é de Capadócia
Salve jorge!
Salve jorge!

Estória de Uma Paixão

No começo,
Você era para mim
Como uma simples distração
Até quando me mostrou
Que não era quem eu conhecia
Era outra
Outra pessoa
Outra cabeça
E aí me veio
Outra forma de pensar em você
De te gostar.

A partir daí
Você passou a ser como um show
E eu a multidão que a cercava
Em um palco iluminado
Por um sentimento que crescia.
E a luz foi deixando a todos
Para iluminar o "meu" show, você.
E ao seu lado eu não mais existia
Pois já te gostava mais do que a mim mesmo.
E após o primeiro beijo
A loucura
A fissura
E a mania de te querer
Como se pudesse ser minha.

E de show passa a ser objeto

Pois eu estava loucamente possessivo,
Te querendo só pra mim;
Mas estava errado
Não era a você que eu queria
E sim o seu sentimento
Retribuindo tudo o que eu sentia por você.

E começaram os problemas:

Era fácil te apreciar como "meu" show –
Mas eu queria mais do que isso
Eu quis te ter como um objeto –
Mas me senti aprisionado como você
E agora tudo vira sonho
Pois se eu não acreditava no que sentia

Como querer que alguém sentisse o mesmo?
Mas descobri que o sonho não era só meu

Era nosso
E aí acordamos,
Juntos!
Agora, em um mundo de realidades
Vejo a tudo com clareza,
Nunca estive tão feliz,
Feliz por estar ao seu lado
E por te mostrar
Um mundo de sentimento
E a grandeza deste mundo
Que não cabe em meras palavras

"Haverá um dia em que o destino irá nos separar definitivamente. E quando esse dia chegar não chores, apenas ame, e pense em mim. Se alguém perguntar "o que foi?" diga apenas que eu existia, mas se alguém perguntar o que fiz, diga que só fiz uma coisa. Amei voce!!!!!!!!!!!

Porre de Alegria

Hoje noite eu não vou beber….

Hoje a noite eu vou tomar um porre…

um porre de alegria de alegria.

E se você quiser acabar com essa alegria,

pense duas vezes antes de fazê-la,

pois amigo(a), a pior coisa que existe é você ferir a alegria de alguém.

Mas tome cuida, pois essa alegria será tão forte e tão intensa que poderá inundar todo seu interior.

E ai sim,npos dois alegres, poderemos

sim tomar um, dois, três… enfim,

vários porres, mas porres de alegria.

por Fafá Araújo

Liberdade – Carlos Mariguela

Não ficarei tão só no campo da arte

É ânimo firme, sobranceiro e forte.

Tudo farei por ti para exaltar te

Serenamente, alheio a própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar te

Dominadora, em fervido transporte.

Direi que és bela e pura em toda parte

Por maior risco em essa audácia importo

Que tanto em tanto e de tal modo em suma

Que não exista força humana alguma

Que essa paixão embriagadora dorme

E que eu por ti torturado for

Possa feliz, indiferente a dor.

Morrer sorrindo a murmurar teu nome.

                                                           Carlos Marighela

As Duas Flores – Castro Alves

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!

                                                           Castro Alves

Aviso da lua que menstrua

Aviso da lua que menstrua 

Elisa Lucinda
 
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua…
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
 julgando a arte do almoço: Eca!…
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha…
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!